domingo, 19 de junho de 2011

Anotações dançam sobre a mesa da copa, cinzeiros cheios, copos vazios e alguns guardanapos onde rascunhei pensamentos utópicamente inteligentes sobre o amor e Deus, com destaque para uma frase que tenho medo de decifrar, mentira, uma frase já decifrada que me causa medo simplesmente por doer como um soco no estômago, afinal, a verdade é sempre dolorida: "nada disso existe".

Nada, nada disso existe.

Então quase caio da cadeira, quase vomito e choro e sangro quando admito que essa é a verdade. Mas respiro fundo, esfrego as palmas das mãos, as solas dos pés e os neurônios, na vã tentativa de gerar energia em mim. Para manter-me viva, coração aberto e pulsante. Saio à procura de sonhos ou ilusões que tenham cheiro de ervas, flores, cores, dores ou amores. Ao encontrá-los, mesmo apenas na mente, tornar-me-ão outra vez capaz de afirmar,acreditar, respirar e amar.
Como num vício inofensivo: tenho um dragão que mora comigo - e grita comigo todas as noites antes de dormir. E, desse jeito, tento começar uma nova história que, desta vez sim, seria totalmente verdadeira, mesmo sendo completamente mentira. Fico cansada do amor que sinto (ou penso que sinto), e num enorme esforço - que aos poucos se transforma numa espécie de modesta alegria - tarde da noite, sozinha neste lugar no meio de uma cidade escassa de dragões, repito e repito este meu confuso aprendizado para a criança-eu-mesmo sentada aflita e com frio nos joelhos do sereno velho-eu-mesmo:

- Dorme, só existe o sonho.

"Não, isso também não é verdade".

E durmo, com a esperança de que o dragão me entenda no dia seguinte e me ajude a colocar as coisas no lugar. Esvaziar o cinzeiro e lavar os copos. Manter o coração aberto e pulsante. E, principalmente, me ajude a tornar verdade a verdade que sinto.