quinta-feira, 15 de julho de 2010

Como se não bastasse o frio, a chuva e a preguiça agora o vento de fora cismou em soprar aqui dentro. Revira as coisas em cima da estante e da mesa. Escancara portas e janelas. E me empurra. Pra fora. Pra longe daqui, pra perto daí. Seguro firme. Cravo as unhas nas árvores mais frondosas. Peço ajuda à um Deus que não sei bem. Sangro até fincar. Lá fora não é ambiente pra mim, tenho medo. Mas ele insiste, o fanfarrão. Sopra como se me fizesse um favor. Entoa canções, lembranças e lugares de ontem, dança na minha frente como quem não se preocupa. Mexe e remexe em cacarecos que ensaio me desfazer faz tempo. E nunca me desfaço. Nunca me satisfaço. E disfarço…enquanto o vento me empurra pra fora do mundo ou sei lá pra onde. Nada fica firme por muito tempo. Peço ajuda à um Deus que não sei bem. Finco até sangrar. Ficar é uma escolha que eu fiz faz tempo. Nada mais me cabe a não ser a minha casa. Casinha. Pequena. Caixinha em que me encolho. Me encaixo. Me recolho e me acho. Não entendo esse sopro todo, essa ventania que me invade. A paz já passou por aqui, já parou, já ficou…e já foi. Não segurei firme, nem finquei unhas, apenas sangrei. E deixei ir. O vento levou sei lá pra onde. O que mais quer levar embora de mim, seu vento vilão? Pra quê tanto bagunçar? Deixe o silêncio e a dor em cima da mesa. As coisas em cima da estante, se quiser, pode levar. Só me deixe a sós comigo, por mais algum tempo. Afinal, ainda me resto. Perto daqui e bem longe daí. E quando cismar de soprar aqui dentro de novo, pense duas vezes. E vá soprar em outro terreiro, faz favor.

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