sexta-feira, 23 de julho de 2010

Queria gritar mas lhe faltara a voz.
Os pés pisavam com calma, o chão escuro, para não tropeçar nem fazer barulho. O breu causava desconforto ao coração calejado.
Era uma menina arguta que guardava embaixo do travesseiro todas as perguntas do mundo. E tinha ousadia suficiente para fazer aquelas que nunca ninguém fazia.
O vento batia sem se deixar perceber de onde vinha. Com os olhos vendados a menina tateava as paredes afim de encontrar algo, talvez a si própria.
Era uma menina arguta. Não se deixava abater pelo gosto de fel que descia pela garganta toda noite de lua cheia.
A casa era fincada na mais robusta árvore do jardim.
Sobre galhos firmes e frondosos se escondia num quarto-sala, a pequena menina. Que apesar de arguta tinha medo da morte e da solidão, por isso, todos os dias se reinventava. Criava personagens e sonhos descartáveis que só valiam até o dia seguinte. Mentia amigos e desejos, mentia a vida, para si mesma. Queria viver aquilo que criava. Mentia. Na vã tentativa de se auto-enganar.
Perguntava às nuvens o porque de andarem tão depressa em dias de céu azul. E perguntava ao céu azul porque deixava tão belas nuvens passarem correndo.
Ela acreditava que o cavalo da sorte só passaria uma vez em sua frente e não pretendia deixa-lo passar como as nuvens passavam pelo céu. Iria agarra-lo sem pestanejar, e investiria nele todas as suas fichas - até mesmo as grandes e douradas moedas de chocolate.
Era uma menina arguta que se reinventava a cada dia. E só sonhava ser feliz.

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