sábado, 17 de julho de 2010

Sentou-se em frente ao mar e chorou. Chorou nas mãos em forma de conchas. Tudo que queria era que aquele mar trouxesse conchas novas para que não precisasse mais chorar nas próprias mãos.
Queria ter uma casa na árvore. Uma casa na árvore e um peixinho dourado.
Mentira.
Não queria porcaria nenhuma de casa na árvore, nem peixinho dourado. Só queria não sentir mais saudade. Queria não ter nada, nem coração!
Coração que bate, sangra, dói e chora...todas as vezes que ela chora nas mãos em forma de conchas.
O gosto amargo na boca a fazia ter vontade de acender mais um cigarro. Vontade de esquecer do mundo, da vida e das pessoas.
Mentira.
Na verdade não queria esquecer de nada nem de ninguém. Só queria motivo para acender mais um cigarro e enganar o coração.
Sentada em frente ao mar tirou a fotografia do bolso. Lembrou de toda felicidade que sentia naquele dia. Era tanta que nem mesmo o frio era capaz de gelar as mãos. O coração estava feliz. Tão feliz que aquecia seu corpo todo.
Flexionou os joelhos e os abraçou, bem ali, em frente ao mar. Abraçou na tentativa de achar que aquele abraço seria melhor do que o abraço que a deixava com saudade, dia após dia. Mas não funcionou.
Desistiu do abraço e do choro. Pensou em ligar para as amigas e tomar cerveja num lugar qualquer. Queria conhecer novas pessoas e sentir novos abraços.
Mentira.
Não conseguia desistir daquele abraço que a atormentava até nos sonhos.
Ergueu a cabeça. Jogou a foto no mar e pediu à Iemanjá que lhe enviasse novas conchas. Não queria mais chorar nas próprias mãos.
Jogou a foto. Jurou para si mesma que não lembraria mais daquele dia. Viu a foto molhar. Boiar e sumir. Com a certeza de que a sua lembrança também sumiria.
Mentira.
Só fez isso para sentir-se forte por um instante. No fundo sabia que tinha outras cópias daquela mesma foto.
Só não queria mais chorar nas próprias mãos...

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