quinta-feira, 15 de julho de 2010

Reform(ul)ando...

Pintura descascada, telhas quebradas, janela sem trinco e fechaduras sem miolo...
Estou em obras. Tudo em mim desmorona lenta e homeopaticamente.
O controle remoto da tv já não atende mais ao comando dos dedos, calejados e cansados. Os pés ja não sentem a terra firme. O estômago chora os sonhos friamente embalados em sacos de lixo.
Para cada martelada, um olhar ao chão. Para cada olhar ao chão uma lágrima salgada. Para cada céu, um inferno à altura. E cada espelho reflete o monstro que lhe convém. Cada um com o seu, cada um na sua, cada cabeça com a sua sentença ou cada um no seu quadrado, tanto faz!
Canta a furadeira aparentemente feliz enquanto falo do que dói em controversa sinfonia. Meus medos me procuram sete vezes ao dia sem pestanejar. Quase sempre cedo. Quase sempre tardo. Meu ventre é uma caverna distante cheia de ecos do além e teias de aranha. A terra firme já não sente mais os pés cansados. Para cada lágrima, uma pá de aço, um prego ou uma nova telha. Para cada escavação, uma escora no lugar. Tudo isso acontecendo aqui dentro e tanto silêncio lá fora. Tomo cuidado para que o barulho não assuste quem está do outro lado.
Estou em obras. Tudo em mim desmorona lenta e homeopaticamente. O apresentador entrevista as pessoas em suas festas particulares enquanto posam para a revista Caras. Estarão elas em obras também? Como conseguem andar por aí impunemente? Como trocam de vestido enquanto sangram os sete dias da semana? Me divirto em frente à tv, com aquele mesmo controle velho que não obedece aos comandos dos dedos calejados e cansados. Imagino as pessoas e seus infernos particulares. Cada um no seu, cada um na sua, cada cabeça com a sua sentença, cada um no seu quadrado... Para cada um, um monstro com suas devidas cores e máscaras. E para cada sonho, o saco de lixo que lhe convém.

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